ENTRELAÇAMENTOS

Teias & Tramas

A artista Regina Helene utiliza um processo criativo em que incorpora o múltiplo, o heterogêneo. É uma expansão da escultura ao tratar de volumes flexíveis aglutinados, da costura informal, das linhas e rendas gráficas intuitivas e da adição de múltiplos materiais na sua estrutura-base.

As técnicas utilizadas pela artista têm por base a aglutinação mediante a assemblage, a tridimensionalidade e o objeto e, através dela, a artista alcança uma rica diversidade de forma, cor e volume, criando um vocabulário de impacto visual.

Na obra de Regina, a desconstrução da matéria é um elemento estrutural predominante, é seu território simbólico, no qual ela manifesta toda a sua personalidade.

Essas linhas e cordões dialogam com os volumes, com os preenchimentos e com os espaços cromáticos, outorgando a esses elementos que compõem a obra pesos e valores visuais diferenciados, conseguindo um resultado livre e corajoso, fruto dessa harmonia de excessos.

São esses cordões emaranhadas de teor orgânico e selvagem que modificam a percepção da assemblage saturada da artista, os quais conduzem nosso olhar pelos volumes e aglutinações, inserindo profundidade na obra e aumentando a força dos seus campos cromáticos.

A liberdade e a complexidade das suas criações dão início à formulação das próprias teorias visuais da artista, levando-nos a um imaginário singular de obras expressivas que retém o nosso olhar.

Embora vejamos uma aparente ambiguidade entre o território emocional e o racional, plasticamente o que acaba prevalecendo de modo geral no campo da representação são as composições abstratas, líricas e emotivas, nas quais os procedimentos híbridos estão ganhando espaço e corpo na atualidade.

As obras de Regina são selvagens ao extremo e, ao mesmo tempo, aconchegantes, e é justamente essa característica que torna sua obra atraente ao nosso olhar.

 

Waldo Bravo
ARTISTA-CURADOR E ARTE-EDUCADOR

 

 

A arte e filosofia se conectam - ambas refletem questionamentos, impressões... sobre o mistério do Cosmo (macro e micro), através das percepções,  do sujeito criador - artista e filósofo - que fogem ao olhar comum dos demais.

A afirmação do Cosmo sobre o Caos é busca incessante dos criadores,  mesmo que o Caos para alguns fundamente sua criação.

A construção de um fluxo permanente de mudança das “coisas” interfere nos movimentos, individual e coletivo, gerando  transformação constante pela ruptura com a realidade em um primeiro momento e subsequente criação. Nesse contexto a (o) artista faz-se meio para a materialização do vir a ser.

A transição de uma existência para outra - criação - estabelece tangibilidade da idéia apreendida ao transmutar-se em composição visual.

Meu trabalho é estimulado pela filosofia. A assemblage como junção de diversos objetos com identidades próprias fecundando um novo objeto com nova identidade distinta dos objetos nele contidos; a forma de junção desses objetos por entrelaçamentos; a preponderância das tramas têxteis, comunicam de forma metafórica mensagem a ser absorvida pelo “outro” (receptor)  através das sensações desencadeadas.

Cada obra é um convite para deixarmos de ser nós mesmos e mergulharmos no “finito que restitui o infinito (Deleuze)”.

Os objetos inusitados que utilizo para compor minhas obras, alguns deles muitas vezes abandonados pela falsa idéia de não serventia, ganham ressignificação estética ao se integrarem um ao outro pelos enlaçamentos, lãs e fios coloridos, que vinculados  em consonância ao todo estabelecem o devir (vir a ser).

Faço da minha arte, prática de experimentação orientada pela densidade, textura, cor, movimento e materiais, como afirmação da liberdade que proporciona significação de vida.

Como expansão da escultura as obras apresentadas caracterizadas pela a estética do acúmulo buscam antagonizar a saturação instalada com a leveza  de materiais  emaranhados de teor orgânico condutores do olhar aos volumes e aglutinações meios que inserem profundidade nas obras e aumentam a força dos campos cromáticos.

Por elas trago à tona a possibilidade dos entrelaçamentos de indivíduos com idéias e personalidades diferentes formatando um novo corpo harmônico - coletivo - ao anularem o “Eu”.

A imanência da criação se formula pela transcendência da realidade. Assim faço-me artista.

Regina Helene

 


Sou Regina Helene, artista visual, Autodidata. Formei-me em Direito na PUC - SP, contudo nunca exerci a advocacia. Por um longo tempo atuei prioritariamente como empresária. Porém, mesmo alcançando sucesso no mundo empresarial, sentia-me vazia. Minha vida estava desbotada. Nada fazia sentido. Até que em 2.000 elaborei dois projetos para a comunidade em que eu estava inserida - um social - P.A.S.S.O (Projeto Absorção Social dos Sem Oportunidades) e o outro de desenvolvimento turístico sustentável, Vila Darcy Penteado. Com a fundação e consequente início de funcionamento do P.A.S.S.O em 2001, projeto que atendia crianças e jovens sem reais oportunidades de transformação de seus destinos resolvi assumir o papel de voluntária nesse projeto social tornando-me orientadora na oficina de arte, mais especificamente, nas oficinas de modelagem com argila (escultura) e papel machê. Nesse momento, com a arte mais presente na minha rotina de vida pude descobrir o que dá cor a minha existência - a arte. Só me coube, então, nela mergulhar incondicionalmente. Caminhei da escultura para a pintura abstrata informal e por fim, para a fase atual - a arte têxtil contemporânea. E foi aí que me encontrei por completo. Ao perder o medo de ousar e deixando de lado os julgamentos, meus e de outros para comigo, propiciei o transbordar da legítima inspiração. A intuição assumiu o comando reservando papel secundário para a razão, estar empresária . Os movimentos repetitivos, como um mantra, ao anularem o tempo e espaço levam-me a um processo meditativo em que a criação flui sem impedimentos racionais. Decidi, portanto, mesmo que tardiamente no tempo Cronos, abraçar o que dá sentido à minha existência - a Arte - fazendo valer o tempo Kairós . Vocês poderão me perguntar Como descobriu a arte têxtil E eu me adianto respondendo que a minha curiosidade pelo universo feminino conduziu-me até ela e para descobertas relacionadas a ela. Na História da Humanidade constata-se que por séculos foi essa arte - do tecer e fiar - a única expressão possível permitida para as mulheres. Já na mitologia grega encontramos grande parte de suas deusas como tecelãs. Simbolicamente as deusas ao criarem os fios, estruturam o Universo. Ou melhor, organizam o Caos estabelecendo o Cosmo. Posso dizer que pela arte, têxtil, também eu me organizo. Organizo o meu caos interno alcançando o equilíbrio pela criação. A arte têxtil materializa a minha sensação de transbordamento, intensidade que não mais cabe ficar aprisionada por molduras limitantes. Como uma metáfora plástica minhas obras buscam pelo simbolismo gerar transbordamento pela intensidade de cores, materiais... pela brasilidade. Estou transbordando ao abrir passagem para o meu mundo intuitivo, fantástico, singular e infinito ao tornar tangível, até então, o intangível . Na minha trajetória artística em 2019 tornei-me orientanda do artista visual Waldo Bravo . Em um segundo momento busquei conhecimento da teoria junguiana com o artista visual e curador Raul Boledi. Com ele, Raul Boledi, concentrei-me nos arquétipos aplicados a criação como a” Saga da alma Feminina”, “O símbolo na arte” e O arquétipo feminino criador da arte . No momento atual, fim de 2020 até o momento presente, encontro-me sob orientação da artista visual, curadora e filósofa Lia do Rio.